terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Uma carta para vocês

Mariana Clark

Belo Horizonte, 10 de agosto de 2009

Alguns dias, como hoje, eu acordo lembrando de todas as mulheres que eu tive. E as acho espetaculares e não me lembro porquê motivo mesmo que tudo acabou. E se aquela roupinha de bebê realmente servisse ou se as palavras de mágoa não tivessem sido ditas. Meu jeito impulsivo me permitisse ser mais racional e, em vez de raiva, sempre trouxesse flores. Os dias, as personagens dessa minha vida cotidiana, tudo ficasse de novo com aquele ar leve de quando se está apaixonado. Mesmo que sempre tenham me querido um homem que não pude ser e, assim, menos satisfação e mais amor. Não sei o que aquelas mulheres viram em mim, talvez minha barba mal feita ou meu sorriso. A voz doce, o olhar de quem as amou profundamente. E um desejo, assim que bate forte no peito, de que eu soubesse disso naquela época. Muito antes de as ferir como fiz tantas vezes ou de dizer que nunca mais mesmo tendo jurado amor eterno. E as roupas voando pela janela como se eu fosse algum tipo de marginal e eu pudesse me defender que não, o meu erro foi ter desejado demais. Tanto tempo e tanta coisa feita em nome dos sentimentos e assim, hoje, essa ressaca e essa vontade de dizer a elas que se sou hoje esse homem mais ou menos certo, ligeiramente incorreto, é porque não foram em vão todas aquelas discussões de relacionamento. Eu as escutei mesmo que tenha dito: "bobagem". Ou coisa pior: "vai se fuder". Ou então: "quero alguém tão diferente de você que não sei nem explicar". Não falo para uma, falo para todas e mesmo que corra o risco, e eu sei que corro, de parecer um cafageste as resumindo todas elas, as minhas mulheres, em uma só enquanto eu sei que isso não se faz. Não se resume as mulheres. E nem minhas são mais mesmo que eu pense que sim. Ninguém faz aquele sexo como eu ou as toca profundamente ou olha de rabo de olho. Não, não. As proibo de achar o homem da vida delas depois de mim. E, nessa coisa infantil, vou me perdendo como as perdi. E posso culpar a vida, sempre injusta, ou o tempo ou tudo aquilo que nos separou. Uma viagem, um pedido, mais do que eu podia oferecer ou mesmo e hoje, com uma lucidez que me espanta, vejo tudo indo embora. A casa na praia, o apartamento em Moema, os nomes dos bebês (e eu sempre fiz questão de Carolina se mulher) e os filhotes de nossos cachorros. Tudo foi e passou e o que me restou: essa ressaca, a dor de cabeça, a vontade de dormir.

Luiz Henrique

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